top of page
Search

100 ANOS DO CENTENÁRIO DA SEMANA DE ARTE MODERNA: A ATRIZ ESTHER GÓES, DE “O REI DA VELA”.

Reportagem: Caroline Rossetto Em 2022, a cena cultural está comemorando o Centenário da Semana de Arte Moderna, evento que mudou o comportamento e hábitos do paulistano e chocou uma sociedade mais conservadora. Além de espetáculos musicais, poesias e muitas outras intervenções artísticas, o evento consagrou ideias que seriam apresentadas anos mais tarde. Uma dessas ideias é o livro “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, publicado em 1937, que se transformou em uma montagem teatral, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, em 1967, trinta anos depois de seu lançamento. “O Rei da Vela” rompe as estéticas burguesas e elitistas, em um período de perda Às liberdades individuais e o direito de ir e vir, com a iminência do Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas. Encenado pela primeira vez durante a Ditadura Militar que iniciou em 1964, às portas do AI-5, a história conta com personagens milionários à beira da falência, corrupção e decadência da família, com muito deboche e maquiagens pesadas. O elenco de “O Rei da Vela” contou com muitos artistas de peso, incluindo a atriz veterana Esther Góes, que viveu a pintora Tarsila do Amaral. Seu contato com Tarsila vem dessa época e nos contou como foi interpretar uma das maiores artistas que o Brasil já teve: “Na verdade, teria havido um primeiro encontro com ela em “O Rei da Vela”, no Teatro Oficina. Ela era, na verdade, a Tarsila, passando pelo crivo, evidentemente, na leitura para a peça, dessa família aristocrática de teatro, na qual Heloísa e Tarsila se identificam e para aquilo tudo, havia um certo estudo sobre o Modernismo. Encontrei mesmo a Tarsila quando a Norma Bengell me chamou para fazer a Pagu e eu no começo, fiquei com bastante medo de fazer essa personagem, porque era o meu primeiro papel no cinema. Cinema é ponto grande, interpretação é cheia de detalhes e pegar logo personagens que existiram e que são um ícone, foi ali que eu estudei muito e tentar descobrir qual era o essencial dela”, conta. Esther também conta que ainda existe um compromisso fundamental da Tarsila com a beleza, que é um ponto muito forte, que valorizava a qualidade estética, de muita generosidade e um bom gosto superior. “Tarsila tinha curiosidade espetacular com as coisas, apaixonada pelas formas e pela arte em geral. O estudo das pinturas dela não se resumia ao que ia fazer; ela precisava fazer mais do que isso, ela reunia artistas, esse trabalho de trazer pessoas e toda aquela gente em seu ateliê. Essa procura constante de uma essência e de uma pulsação que refletem nos quadros dela. Tem dois momentos importantíssimos dela: a descoberta do Brasil, que ela também faz com um olhar alheio sobre a terra, com a distância para depois encontrar, a viagem a Minas, o poema, o manifesto e a poesia “Pau Brasil” que paira entre ela e Oswald. Os poemas da fase “Pau Brasil” de Oswald e as pinturas de Tarsila quase que se interligam. Depois, tem a fase antropofágica, de um Modernismo mais arraigado e essa é uma fase em que ela tinha bebido de muitas fontes e tinha grandes encontros em São Paulo e a sua fazenda e reunia os grandes artistas, com grandes acontecimentos: tinha conversas, trocas e da transmissão. Isso tudo permitiu que todos eles transitassem entre as coisas. Nada era para si. A essência do Modernismo tem essa qualidade: a generosidade” Esther Góes ganhou o prêmio de atriz coadjuvante pelo filme e sempre teve o desejo de reinterpretar a personagem e foi buscar biografias para mergulhar no universo de Tarsila e seus amigos. “O Rei da Vela” completou 54 anos em 2022 e segue de um modo muito atual, com grandes críticas a sociedade atual, usando a ironia, o deboche, o grotesco, a paródia, a religiosidade e o uso da filosofia.

Bình luận


bottom of page